Numa gafe sem precedentes nos 89 anos da premiação, “Moonlight” levou o Oscar de melhor filme após os apresentadores Warren Beatty e Faye Dunaway terem anunciado, por engano, que “La La Land” era o grande vencedor da noite.
A equipe do musical já estava no palco, fazendo os tradicionais agradecimentos, quando se notou o equívoco e a produção de “Moonlight” foi chamada a receber o prêmio.
A vitória de “Moonlight”, que também levou os prêmios de roteiro adaptado e ator coadjuvante (Mahershala Ali), marcou uma reparação histórica da Academia aos negros do cinema, após a polêmica do ano passado do #OscarsSoWhite, que se insurgiu contra a presença de apenas atores brancos na premiação.
O filme de Barry Jenkins, que é negro, conta o amadurecimento de um jovem gay afro-africano em Miami e seu elenco é todo composto por atores negros.
Além de Mahershala Ali, que vive um traficante cubano no longa, outra atriz também negra levou a estatueta de coadjuvante: Viola Davis, que vive uma dona de casa amargurada em “Um Limite Entre Nós”, de Denzel Washington.
Favoritos em suas categorias, nem Ali nem Davis citaram a questão racial em seus discursos.
Quem tocou no tema foi Tarell Alvin McCraney, corroteirista de “Moonlight”. Ele, que é também autor da peça que originou o filme, dedicou a estatueta de roteiro adaptado “aos jovens negros do país”.
O documentário premiado também tem na questão racial um de seus eixos. “O.J.: Made in America”, de Ezra Edelman, recupera a acusação de assassinato contra o ex-atleta O.J. Simpson e discute racismo e justiça.
O drama de guerra “Até o Último Homem”, de Mel Gibson, ficou com os Oscar de mixagem de som e montagem.
“LA LA LAND”
Embora “La La Land” tenha perdido o principal prêmio, o musical acabou sendo o maior premiado da noite. O filme levou seis estatuetas, incluindo as de melhor diretor (Damien Chazelle) e atriz (Emma Stone).
Aos 32 anos, Chazelle igualou Norman Taurog (de “Skippy”, de 1931) como o diretor mais jovem a levar o Oscar.
Também nas categorias principais, Casey Affleck ganhou o prêmio de melhor ator pelo melancólico Lee, de “Manchester à Beira-Mar”. O filme ganharia também a estatueta de roteiro original.
A esperada politização ficou concentrada mesmo nas falas de Jimmy Kimmel, apresentador da noite, e em parte dos discursos dos vencedores, que direcionaram sua acidez para o alvo mais óbvio da cerimônia: Donald Trump.
Kimmel citou a decisão da Casa Branca de barrar veículos críticos ao governo de eventos oficiais, lembrou o embate com Meryl Streep (chamada de “superestimada” pelo presidente americano) e até tuitou ao vivo para Trump: “Ei, você está acordado?”. Em segundos, a postagem teve mais de 100 mil curtidas.
Até mesmo quem não compareceu à cerimônia deu um jeito de alfinetar o presidente. Caso do iraniano Asghar Farhadi, que levou seu segundo Oscar de melhor filme estrangeiro, agora por “O Apartamento”. Em protesto contra as restrições de entrada aos EUA impostas por Trump, o cineasta não viajou ao país.
“Cineastas criam empatia entre nós e os outros, empatia de que hoje precisamos mais do que nunca”, escreveu o iraniano no discurso que enviou à cerimônia.
O italiano Alessandro Bertolazzi também cutucou o presidente ao levar a estatueta de melhor maquiagem por “Esquadrão Suicida”. “Quero oferecê-la a todos os imigrantes.”
“La La Land”, que chegou à cerimônia como recordista em indicações (14, no total, empatado com “Titanic” e “A Malvada”), não conseguiu superar as 11 vitórias de “Ben-Hur”, “Titanic” e “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei”. Ainda assim, também foi vitorioso em fotografia, direção de arte, canção original (“City of Stars”) e trilha sonora.