Citação ao presidente Jair Bolsonaro na investigação da morte da vereadora Marielle Franco (Psol) e de seu motorista, Anderson Gomes, pode levar o caso ao STF (Supremo Tribunal Federal) pelo fato de o presidente ter foro privilegiado.
A informação foi divulgada pelo Jornal da Nacional na noite desta 3ª feira (29.out.2019).
A menção ao presidente, segundo o jornal, surgiu em depoimento prestado à polícia pelo porteiro do condomínio na Barra da Tijuca, na zona sul do Rio de Janeiro, onde Bolsonaro e o policial militar reformado Ronnie Lessa têm casa. Ronnie é acusado de ser o autor dos disparos que mataram Marielle Franco.
O porteiro disse que, em 14 de março, dia em que Marielle foi assassinada, 1 dos envolvidos na morte da vereadora foi ao condomínio às 17h10 e disse que iria à casa de Bolsonaro, mas acabou indo até a casa do PM reformado.
O JN afirma que a polícia teve acesso ao caderno de visitas do condomínio. O homem que foi ao local naquele dia trata-se de Élcio Queiroz, ex-PM expulso da corporação e preso acusado de ser o motorista do carro usado no assassinato de Marielle.
No depoimento, o porteiro disse que chegou a ligar na casa do presidente para confirmar se a visita estava autorizada e que identificou a voz da pessoa que confirmou a visita como a do “seu Jair”. No mesmo condomínio, Bolsonaro também é dono da casa 36, onde vive 1 de seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ).
Segundo o porteiro, Élcio disse que iria para a casa de número 58 (de Bolsonaro), mas, ao entrar, seguiu para a casa 66, onde morava Ronnie Lessa. Ele observou por meio de uma câmara o carro do suspeito, 1 Renault Logan de placa AGH-8202, o mesmo identificado como o carro que perseguiu o da vereadora na noite em que foi assassinada.
Em seguida, o porteiro disse que ligou para a casa de Bolsonaro e o presidente teria dito a ele que sabia para onde o homem estava indo.
De acordo com os registros de presença das Câmara dos Deputados, em 14 de março de 2018 Bolsonaro estava em Brasília e registrou presença em duas votações na Casa, às 14h e às 20h30. No mesmo dia, o presidente, que na época era deputado federal, postou vídeo nas redes sociais dentro e fora do Congresso. Ou seja, não poderia estar no Rio de Janeiro.
Segundo o JN, a guarita do condomínio tem equipamentos que gravam as conversas do interfone. Agora, os investigadores vão apurar para saber quem estava na casa de Bolsonaro naquele dia.
PROCURADORES QUESTIONAM TOFFOLI
Ainda segundo o jornal, representantes do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) foram a Brasília em 17 de outubro para perguntar ao presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Dias Toffoli, sem avisar o juiz do caso no Rio, se podem continuar com investigações no Estado depois de ter aparecido nome de Bolsonaro no caso, uma vez que ele tem foro privilegiado.
Toffoli ainda não teria dado uma resposta aos procuradores.
O QUE DIZ A DEFESA DE BOLSONARO
O advogado do presidente, Frederick Wassef, criticou o depoimento do porteiro e disse que esta seria uma tentativa de atacar a imagem do presidente.
“Eu nego isso. Isso é uma mentira. Deve ser 1 erro de digitação, alguma coisa. O Jair Bolsonaro, no dia 14 de março de 2018, encontrava-se em Brasília, na Câmara dos Deputados, inclusive existe o registro de entrada dele lá, com o dedo, e todas as demais provas. Eu afirmo com absoluta certeza e desafio qualquer 1 no Brasil a provar o contrário. Isso é uma mentira, isso é uma fraude, isso é uma farsa para atacar a imagem e a reputação do presidente da República. E é o caso de uma investigação por esse falso testemunho em que qualquer pessoa tenha afirmado que essa pessoa foi procurar Jair Bolsonaro. Talvez, esse indivíduo tenha ido na casa de outra pessoa, e alguém, com intuito de incriminar o presidente da República, conseguiu 1 depoimento falso, onde essa pessoa afirma que falou com Jair Bolsonaro. O presidente não conhece a pessoa de Élcio, e essa pessoa não conhece o presidente. Isso é uma mentira e uma farsa”, disse Wassef.