Foto: Armando Artoni
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Jânyo Diniz, CEO do Grupo Ser Educacional e Presidente do Sindicato das Instituições de Ensino Superior de PE

O mundo do trabalho está mudando mais rápido do que os currículos universitários. Em poucos anos, profissões desapareceram, outras surgiram, e a Inteligência Artificial passou a mediar cada vez mais as atividades humanas. Nesse cenário, os conceitos de empregabilidade e trabalhabilidade ganham nova centralidade e impõem uma pergunta urgente ao ensino superior: estamos formando pessoas para conseguir um emprego ou para continuar relevantes em um mercado em transformação? A verdade é que, hoje, quem ensina só para empregar, forma para desaparecer.

Historicamente, a empregabilidade esteve associada à capacidade do indivíduo de atender às exigências do mercado e conquistar uma vaga. Era um conceito funcional em uma economia estável, com profissões previsíveis e trajetórias lineares. O diploma era o passaporte para o emprego formal. Mas essa lógica não se sustenta mais em um mundo onde o trabalho se fragmenta, as carreiras se encurtam e as tecnologias se renovam em ciclos cada vez mais curtos.

É nesse contexto que surge a trabalhabilidade, conceito mais abrangente e contemporâneo. Como explica Albertins (2021), trata-se da capacidade do profissional de desenvolver suas próprias competências para gerar renda e se reinventar continuamente, seja como empregado, empreendedor ou autônomo. Em outras palavras, o importante não é apenas ter um emprego, mas ter trabalhabilidade, ou seja, ser capaz de continuar trabalhando, aprendendo e gerando valor em diferentes contextos.

A trabalhabilidade desloca o foco da vaga para o indivíduo. O profissional torna-se gestor da própria trajetória, responsável por aprimorar suas competências cognitivas, socioemocionais e digitais para manter-se relevante. E isso muda completamente o papel da universidade. Se antes o objetivo era formar para a empregabilidade, hoje o desafio é formar para o trabalho em transformação. Uma formação que combina base técnica sólida, adaptabilidade e capacidade crítica diante da tecnologia.

A Inteligência Artificial (IA) é a força que acelera essa transição. Quando integrada de forma inteligente ao currículo, a IA permite personalizar trilhas de aprendizagem, diagnosticar lacunas, oferecer feedback em tempo real e criar experiências práticas orientadas por dados. Em vez de currículos fixos e provas padronizadas, o futuro da formação estará em portfólios dinâmicos, com micro certificações, projetos reais e evidências de competências. É assim que a trabalhabilidade se torna tangível: o aluno mostra o que sabe fazer e o mercado reconhece.

Mas isso exige uma mudança estrutural. As instituições precisam reconfigurar seus modelos acadêmicos, passando da transmissão de conteúdo para o desenvolvimento de competências. É necessário investir em metodologias ativas, laboratórios virtuais, projetos interdisciplinares e ambientes híbridos que aproximem o aprendizado das demandas reais do trabalho.

Do lado do poder público, é urgente alinhar a regulação às necessidades atuais e futuras da educação superior, eliminando travas burocráticas que impedem a atualização dos currículos e a integração entre formação, mercado e trajetória individual dos alunos. Também é necessário rever as restrições ao uso da Inteligência Artificial em processos de tutoria e ensino, permitindo que as Instituições de Ensino Superior (IES) inovem com responsabilidade e segurança. Caso contrário, a inovação ocorrerá fora do ambiente regulado, em instituições sem compromisso com a qualidade e sem os cuidados éticos que o sistema formal de ensino deve garantir.

A verdade é que o futuro da educação superior não será medido apenas pela taxa de empregabilidade dos egressos, mas pela sua capacidade de continuar aprendendo e se reinventando. Empregabilidade é conquistar um posto. Trabalhabilidade é conquistar o tempo. É a aptidão de gerar valor e permanecer relevante em um mundo que muda todos os dias.

Se o Ensino a Distância ampliou o acesso, a Inteligência Artificial pode dar profundidade. E se a trabalhabilidade se tornar o novo norte da educação superior, estaremos formando profissionais não apenas para o primeiro emprego, mas para uma vida inteira de transformações.

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